RIBEIRA DE VILA CHÃ
RIBEIRA DE VILA CHÃ
Marginada pela Ribeira de Vila Chã em aproximadamente metade da sua periferia, a “Ribeira” era uma terra de regadio moderado, com uma larga leira de cultura de milho, a outra metade de sequeiro... um corrimão de videiras rodeava toda a propriedade, um outro atravessava-a diametralmente entre os dois extremos mais distantes.
A Ribeira era os olhos da cara do meu avô. Não só dele. Num poço mais ou menos a meio do percurso da Ribeira de Vila Chã em redor da propriedade, ficaram-me lá baldes de suor a tirar toneladas de água à picota, (burro, na minha terra), nos meus dezassete anos, e o sabor de enguias fritas, “pescadas” numa das limpezas ao poço ainda nos meus anos de escola.
Uma terra espectacular: Milho, abóboras, melões, feijão… na leira do outro lado, três ou quatro robustas oliveiras, leguminosas a azotar a terra: tremoços, grão de bico…
Vinha o tempo da colheita.
O meu avõ instalava taipais no carro de bois, enchia-o de espigas de milho; por cima acrescentava molhos de tremoceiros a chocalhar, abóboras, cebolas penduradas nos fueiros, cabaças, pernadas de macieira aqui e ali.
O sacrifício dos animais na subida para Couchel não era o espectáculo mais bonito de se ver… contudo, perante uma aldeia embasbacada à obra de arte do meu avô a Joana Vasconcelos não tinha qualquer hipótese.
Aniceto Carvalho